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01045000001 - Environment Commodities - Curitiba, Paraná - Gazeta Mercantil - PR - 27.06.2000 - A salvação (ecológica) da lavoura - Commodities ambientais podem tirar agricultores das dívidas - Por Fernando Scheller 01/07/00 08:03:01
Environment Commodities - Curitiba, ParanáA salvação (ecológica) da lavoura
Commodities ambientais podem tirar agricultores das dívidas
Por Fernando Scheller*
A produção de produtos agrícolas orgânicos, a comprovação da utilização de métodos ecologicamente corretos na produção e a preservação do solo ou de mananciais pode maximizar, num futuro próximo, as possibilidades de lucro dos empresários do setor no Paraná. Uma nova modalidade de mercadoria, a ser negociada em bolsa, surge com cada vez mais força no mercado financeiro do país. Os commodities ambientais dividem os bens naturais - mata, energia minerais, água, solo etc. - em categorias, comercializando não só sua existência, mas também os benefícios a serem retirados dela.
A modalidade de negócio foi desenvolvida pelo Sindicato dos Economistas do Estado de São Paulo com o apoio de sociedades ambientais e de biólogos. A idéia, de início, era dar valor ao que a Mata Atlântica oferecia. Mas, conforme a idéia foi sendo discutida com entidades que representam outras regiões, o projeto foi amadurecendo e a Amazônia e o Cerrado também foram incluídos. A meta, de acordo com a economista Amyra El Khalili, que explicará o projeto da Bolsa de Commodities Ambientais a profissionais baseados em Curitiba, nos próximos dias 5 e 6, é que o extrativismo e a agricultura ganhem maiores chances de negociação de preço, nos mercados interno e externo.
Para tanto, ela propõe a centralização dos produtos com valores ambientais (orgânicos), a extração de produtos das florestas e a preservação de recursos, como solo e água, sejam vendidos e recebam apoio (financiamento) sendo concentrados em um lugar só - no caso, a bolsa de commodities. Quem ganhará mais com isso, ressalta Amyra, são os agricultores. Isso porque, além de negociar a "mercadoria" preservação (commodities ambientais), eles podem estender seu negócio aos commodities agro-ambientais (produtos sem aditivos químicos), além dos commodities agrícolas, que hoje são largamente negociados no Estado. A equação é simples: o empresário agrícola deixa de ter uma fonte de negociação para ter três. "E, se ele for esperto, pode também aproveitar para incentivar o turismo rural", completa.
A participação da agropecuária do Sul neste processo, aponta a economista, é de extrema importância para o País porque os empresários paranaenses e gaúchos "colonizaram" a agricultura hoje praticada no cerrado e no Centro-Oeste, tendo chances de influenciar a difusão dos commodities ambientais dessas regiões. O processo, porém, está sendo lento. As primeiras notícias sobre o assunto foram divulgadas há dois anos, mas, mesmo assim, os agricultores têm se mantido renitentes à novidade. "A idéia é simples: parte da propriedade deve ser direcionada a culturas alternativas, sem agrotóxicos. Mas, em vez disso, eles preferem continuar reféns da safra, sendo que uma quebra de produção pode arruinar suas finanças. São muito teimosos", frisa.
O reconhecimento dos bens naturais como mercadoria (e moeda), segundo a economista, pode revolucionar também o sistema de avaliação de propriedades rurais. Um trecho de floresta ou um manancial poderá ser encarado, a partir de agora, como fator que agrega valor à terra, e não o contrário.
A importância dos bens ambientais do Brasil é reconhecida internacionalmente. O País está entre os nove países considerados pelo World Watch Institute (Organização para Controle do Planeta) como uma das nações capazes de ajudar a abastecer o mundo. "Temos a maior reserva de água potável no Planeta. No Oriente Médio e na Europa há muita falta do produto. Já estamos começando a sofrer com a imigração em razão disso", explica.
Amyra defende um profundo estudo sobre a exploração dos recursos
naturais como mercadoria conversível em dinheiro. "Não adianta deixar uma empresa
internacional explorar uma bacia hidrográfica, senão eles podem controlar a água que
vamos tomar", explica. Mas ela não descarta a possibilidade de o País se tornar
exportador de água mineral num futuro próximo, desde que o preço do produto seja
definido internamente. "A cotação da soja e do café produzido aqui é determinado
por Chicago ou Londres. Isso não acontece com o petróleo do Oriente Médio",
comenta.
A diferença entre a emissão de commodities ambientais americana e européia com a
brasileira reside justamente na quantidade de recursos minerais que o Brasil dispõe.
Enquanto os norte-americanos baseiam a emissão dos papéis em "eco", destinados
ao controle da emissão de poluição ou fabricação de lixo, aqui as mercadorias serão
lançadas justamente por serem encontradas em abundância e, por isso mesmo, serem
consideradas de grande valor no mercado externo.
Fernando Scheller, é reporter da Gazeta Mercantil de Curitiba, PR - email: fscheller@ig.com.br
"A melhor maneira de prever o futuro é criá-lo" Peter Drucker